Na Índia de 1883 nasce Jaganath Ganesh Gune, aquele que viria a se tornar Swami Kuvalayananda, um pioneiro no caminho da popularização do Yoga. Gune nasce em um momento onde o Yoga estava em descrédito nas cidades da Índia britânica, pois os yogis eram vistos como pessoas ligadas a seitas de sexo ritual. Alguns andavam nus, com longas barbas e cabelos e, em alguns casos, com cinzas de funerais cobrindo o corpo. Seus hábitos iam contra a sociedade local. Em um relatório britânico foram considerados “vadios errantes sem reputação”.

Até então, o Yoga era praticado em pequenos grupos que viviam fora dos centros urbanos.

Hoje o Yoga está em toda parte. Estima-se mais de 250 milhões de praticantes em todo o mundo. Metade na Índia, seguido pelos EUA, num mercado que só cresce. Há milhares de estúdios de Yoga espalhados por todos os lados. As práticas são feitas de forma regular, semanalmente. São feitas em séries guiadas, algo que não existia até pouco tempo atrás. Torna-se parte de programas escolares, clubes, academias, cruzeiros, resorts… Famosos fazem Yoga! As pesquisas e publicações científicas em torno dos temas Yoga e meditação vem crescendo exponencialmente desde os anos 2000. O Yoga passa também a ser aplicado em hospitais e recomendado por profissionais da saúde.

Podemos dizer, sem exageros, que Swami Kuvalayananda foi um dos principais responsáveis por criar essa possibilidade. A passagem de uma prática restrita e confinada em pequenos grupos que se auto investigavam, para um Yoga praticado no mundo todo e aplicado às ciências médicas com inúmeros benefícios para a sociedade.

Isso se deve, em grande parte, ao seu mestre e inspirador, Paramahamsa Madhavadas, com quem Swami Kuvalayananda viveu durante seus dois últimos anos de vida, quando Madhavas já estava com seus 120 anos de idade! Madhavadas era mesmo um visionário, pois já naquele tempo percebeu os rumos que o Yoga teria se continuasse a ser propagado em sua antiga linguagem tradicional. Em uma de suas mais importantes citações diz: “A antiga ciência do Yoga não é apenas para a Índia, mas é a grande contribuição dos antigos rishis para toda a humanidade. Para que continue trazendo benefícios para a sociedade, sua divulgação não deverá acontecer na antiga linguagem tradicional. Assim, se o Yoga deve continuar é para que seja benéfico para toda a humanidade e esses benefícios deverão ser comprovados decisivamente, usando métodos aplicados nas ciências ocidentais.”

Isso inspirou Swami Kuvalayananda a investigar cientificamente as práticas de Yoga e a fundar uma linguagem que inaugura um novo olhar em torno da prática, capaz de tornar seus benefícios facilmente disponíveis para toda a humanidade.

Então, em 1924 ele funda a escola de Kaivalyadhama em Lonavla, uma cidade próxima a Mumbai. Esse local é palco das primeiras pesquisas científicas e atrai a atenção de muitos, não só na Índia, mas em todo o mundo. Kuvalayananda tinha claro seu objetivo de coordenação entre as ciências modernas e o Yoga, mas logo de início se depara com uma questão crucial: estudar cientificamente os objetivos mais básicos do Yoga ou os mais elevados? Optou começar pelos mais básicos, pois era o possível com os instrumentos disponíveis na época. De 1924 a 1930 muitas pesquisas foram realizadas. Um dos primeiros experimentos foi a constatação da pressão negativa que é gerada pela prática de uddiyana bandha, e essa pressão negativa foi batizada de madhavadas vacuum em homenagem à Paramahamsa Madhavadas. Outra pesquisa testou o tempo que um yogi pode permanecer sem respirar em um ambiente hermeticamente fechado.

Pessoas importantes como Nehru, que foi o primeiro ministro da Índia, e Sua Santidade Dalai Lama visitaram a escola de Kaivalyadhama atraídos pelas pesquisas científicas e crescente popularidade da escola. Gandhi chama a atenção por uma grande quantidade de cartas trocadas com Swami Kuvalayananda, onde procurava compreender os benefícios das práticas por conta de sua saúde fragilizada, fundando o que viria a se chamar de Yoga Terapia.

Tradição não é algo que pertence ao passado, mas é algo que deve ir se modificando e se adaptando com o tempo. Swami Kuvalayananda inaugura uma nova linguagem, mas estritamente ligada à tradição do Hatha Yoga. Cria uma metodologia de ensino e de prática, que torna possível a difusão para muitas pessoas.

Sua ligação com o Brasil e com o IEPY se deu através do professor Gharote, que foi seu discípulo direto, vivendo com ele por 12 anos, participando ativamente das pesquisas científicas e literárias e viajando para diversas partes do mundo. Professor Shimada tomou contato com Kaivalyadhama, mas não podia deixar seu instituto para ir estudar lá, então enviou sua aluna, Dona Inês Romeu, que foi aceita (por engano) como a primeira mulher a estudar na escola. Dona Inês foi a professora de Marcos Rojo e esse elo com a tradição se fortaleceu quando Gharote começou a participar dos cursos de capacitação e pós-graduação em Yoga no Brasil, convidado pelo IEPY.

O IEPY representa Kaivalyadhama no Brasil e é uma das poucas instituições no mundo que tem seu curso de capacitação certificado por essa importante escola, mantendo forte vínculo com a tradição.

Marcus Vinicius Rojo Rodrigues