Engana-se quem pensa que na Índia vai encontrar um velho sábio sentado numa caverna que vai te dizer que te esperava ha muito tempo e que enfim você chegou. Aliás, se você encontrar este velho sábio, tenha cuidado, ele pode ser um velho “sabido”, pode ser o que eles chamam de um “smart Sadhu”.
Temos muitas ilusões com relação ao místico e ao que seja realmente importante no caminho espiritual. A primeira pergunta que eu fiz para um respeitado Swami, assim que cheguei na Índia, foi se ele tinha conhecimento de alguém que levitava. Ele me olhou com uma cara de ponto de interrogação, que fez com que eu dissesse que a pergunta era uma brincadeira. Mas, não era. Eu achava que levitar era muito importante no caminho espiritual. Como sou persistente, fiz a mesma pergunta para um outro mestre de Yoga, e este me respondeu perguntando: -“O que isto poderia me ajudar no meu progresso espiritual?”. Desisti de procurar “levitadores”.
Acabei descobrindo que não fui para a Índia para encontrar respostas, mas para ficar com mais dúvidas ainda. Percebi que o velho sábio que achamos que vive na Índia, é a própria Índia. Hoje, ele esta usando roupas modernas, anda em carros chiques, é todo “high theck”, come fast food., mas, no fundo (cada vez mais no fundo) ainda conserva algo que nos encanta. Costumo dizer que a graça da Índia está nos indianos. O problema está em achar os indianos que vivem como indianos.
Caso você vá para a Índia, sugiro que não fique apenas correndo atrás de conhecimentos, que às vezes, estão cheios de vaidade, vindo do “grande, mega, hiper, maha”, guru. Fique com a sabedoria e simplicidade do povo. Deixe que a Índia passe por você. Ficar sentado num simples lugar tomando um chá, vendo as pessoas é muito rico, quando se está na Índia. Se estivermos atentos, tudo se torna oportunidade para aprendermos. O que mais me chama atenção é o olhar alegre das crianças, a devoção do povo e a convivência com os animais. Em uma pequena caminhada pelas ruas de uma cidade, podemos cruzar com cachorros, cavalos, camelos, porcos, às vezes elefantes e logicamente as maravilhosas vacas.
Aproveite para aprender e se divertir com as trapalhadas dos indianos para conosco e com as nossas trapalhadas para com eles.
Aconteceu comigo:
Certa vez, levei como oferenda para ser distribuída ao final de uma cerimônia religiosa, como de costume, um saco de bolachas amanteigadas que eu gostava muito, mas, o sacerdote (Swami) não distribuiu. No dia seguinte, perguntei ao Swami o que havia de errado com minha oferenda e ele me explicou que normalmente, distribuem doces feitos em casa (manufaturados), frutas ou até mesmo leite, o que não era o caso daquelas bolachas industrializadas. Pedi desculpas pelo meu equívoco, justificando que era o que eu mais gostava e por isso quis compartilhar com o grupo. Na cerimônia do dia seguinte, para a minha surpresa e grande espanto dos participantes, o Swami distribuiu as tais bolachas, entendendo que a minha intenção justificava o ato. Mais do que sábias palavras, esta forma de agir me ensinou coisas muito importantes. Primeiro, que alimento não é tudo igual, não basta o sabor, mas, a forma como ele é produzido faz muita diferença. Segundo, que a boa intenção pode superar muitas falhas no meio do caminho e terceiro que a confiança dos seguidores do Swami permitia que ele decidisse pelo o que ele achava correto sem ser questionado, todos comeram as bolachas.
Marcos Rojo